Como Pernambucano, sou ouvinte do frevo desde cedo. Não me lembro qual a primeira vez que escutei Madeira que Cupim não rói, Cabelo de Fogo, Evocação nº1 ou de Chapéu de Sol Aberto. Com certeza não foi no meu debute nas ladeiras de Olinda ou nos festejos do Recife Antigo. Terá sido pela TV? Ou Rádio? E se a primeira foi, na realidade aquela vez que minha vó cantou pra mim? Ou a minha vizinha Zulmira, assobiando Último Regresso pra o papagaio dela? Talvez tenha sido um ato embrionário, imperceptível, quase que genético. A verdade é que mesmo na época que escutava Heavy Metal (Vale aqui abrir um parêntese para lembrar que os ouvintes desse estilo são extremamente xiitas quanto à degustação de outros tipos de música), por volta dos meus 14, 15 anos, nunca deixei de me emocionar quando ouvia os clássicos Frevos de bloco de Edgar Moraes ou os Frevos Canção de Capiba, muito menos os Frevos de Rua, que aprendemos a acompanhar com assobio, quase que sem perceber. Imagino que não seja o único Pernambucano que tenha esse sentimento quanto ao frevo. Tenho também certeza que muitos não o têm, não foram criados ouvindo os "Clarins de Momo". Mas eu, como a maioria não pude fugir. Até o que foi considerado por muito tempo o hino do meu time, é um Frevo, esse de rua, sem letra. É o Come e dorme, de Nelson Ferreira, sempre associado ao Clube Náutico Capibaribe. Os outros dois clubes do Recife também têm frevos que remetem a eles. Tudo muito natural, tudo advindo de uma história que não vivemos, mas aprendemos admirar e nos orgulhar.
No entanto, o que sempre me deixou aflito e indignado quanto ao Frevo foi que, passados os festejos de Carnaval, quase nunca há público para o ritmo durante o resto do ano. A associação ao carnaval é tão forte e inevitável, que a impressão que passa é que, como na música de Chico, todos estão se "guardando para o carnaval chegar", dessa vez, não pra sambar, mas pra frevar. É um ritmo de 103 anos recém-completados. Será possível mudar essa cultura a essa altura do Campeonato? Em 2007, quando completou 100, tive essa esperança. Houveram diversas homenagens e discos compilando versões diferentes das originais, com artistas que não estavam acostumados a tocar frevo. Tenho aqui duas delas. Frevo do Mundo, com boa parte da nem tão nova geração Pernambucana de Músicos, como China, Siba, Eddie, Ortinho, Isaar e até alguns de fora, como Céu e João Donato. A outra coletânea foi feita pela biscoito fino. 100 anos do Frevo. É de perder o sapato, traz uma gama ainda maior de artistas de fora de Pernambuco, interpretando frevos, acompanhados na maioria das vezes pela orquestra do grande Maestro Spok. Participaram Vanessa da Mata, Ney Matogrosso, Elba, Gil, Luiz Melodia, dentre outros. Houve muita crítica na época sobre a real motivação dos envolvidos com o projeto, pois no show de lançamento, durante o carnaval de 2007, muitos liam as letras das canções, já em cima do palco, mostrando certo descomprometimento com aquilo tudo.
Essas ações se viessem sozinhas não surtiram efeito direto no mercado fonográfico, mas pessoas como o já supracitado Maestro Spok, sempre fizeram questão de levar o ritmo que tanto defendem para os quatros cantos do Brasil, e até do mundo. O trabalho parece que vem surtindo efeito aos poucos. O público do São Paulo e do Rio já recebe o Frevo de braços abertos, indo assistir concertos toda vez que o maestro percorre as cidades, isso tudo longe do mês de fevereiro, diferentemente com o que ocorre no Recife e em Olinda.
Esse fenômeno, rendeu-me uma surpresa extremamente agradável assim que abri o Som Barato no fim da semana passada. Trata-se da Orquestra Frevo Diabo.
Liderada pelo carioca Daniel Marques e o Pernambucano Armando Lôbo, provavelmente um desses resistentes como Spok, que sempre tiveram a intenção de ver o frevo ecoando pelo país, a Orquestra é a primeira fora do Estado de Pernambuco a se dedicar exclusivamente ao Frevo.
Com um primeiro trabalho elogiado por, nada mais, nada menos que o maestro Ademir Araújo, O disco com nome inspirado na canção homônima de Edu Lobo, gravada por Chico Buarque, conta com 10 faixas extremamente bem trabalhadas e de emocionar qualquer um que aprecie o gênero. Não são só clássicos compostos pelos grandes mestres. Há novos frevos, compostos pelos criadores da orquestra. Um deles, o Frevo Guarani, que abre o disco é uma versão adaptada da Ópera O Guarani, de Carlos Gomes. Todos contando com certo nível de experimentalismo, daqueles que respeitam a obra, mas trazem a ela um ar renovado. Coisa finíssima.
Agora vamos curtir o carnaval, com a certeza de que a nossa festa não vai acabar na quarta-feira. Viva o Frevo!
Lamentavelmente, o download foi proibido pela gravadora, em comentário feito nessa página:
"Favor retirar de seu blog o disco Frevo Diabo, bem como todos os títulos da Delira Música. Os trabalhos estão disponíveis de forma legal, fisicamente através dos CDs, e digitalmente em portais de venda digital.
Sua publicação não está autorizada e fere a lei de propriedade autoral."
12 comentários:
Favor retirar de seu blog o disco Frevo Diabo, bem como todos os títulos da Delira Música. Os trabalhos estão disponíveis de forma legal, fisicamente através dos CDs, e digitalmente em portais de venda digital.
Sua publicação não está autorizada e fere a lei de propriedade autoral.
Uma pena de verdade. Lamentável. Vou retirar.
POstura lamentavel isso de tirar o disco do blog. era aoortunidade de eu por exempo conhecer a banda, sou DJ, tenho um programa de rádio. Não sei onde achar a música disponível, no myspace só dá pra ouvir. lamentavel
É verdade, Luciano. Fiquei abismado com isso, que nunca tinha ocorrido por aqui. Como dito na descrição,
"Apesar do nome capcioso, esta comunidade não incentiva nenhum tipo de venda ou reprodução de arquivos nela contidos, apenas a divulgação dos respectivos artistas.
A hospedagem dos links é feita sem intuito de lucro, não ofendendo os direitos autorais, de acordo com o art. 46, da Lei 9.610/98."
Nunca tinha feito um texto tão longo e elogioso para o blog e recebi esse feedback. Repito: Uma pena.
Por isso que eu nao conheço essa porcaria de som, nao disponibilizam pra conhecimento da geral...
Pensamento pequeno, retrogrado.
Eu tbm queria conhecer!
mas por causa da postura da gravadora - jamais irei atras.
essa Delira Música está mesmo delirando se vai vender disco com essa postura.
Pq todo mundo sabe que quem baixa, compra - mas na mão do artista.
jamais irei comprar pela internet desses delirantes executivos.
e por isso jamais irei conhecer esse som...
a proposito - tbm sou DJ e tbm tenho programa de rádio.
Ia tocar esse disco no programa de sábado de carnaval - mas não vou mais... por causa da postura dessa gravadora...
Torrent neles !
torrent neles! [2]
Aaaaaaah! Zoiei o post e pensei: nu, mais uma bizarria de coisa boa que vou ouvir! Pena mesmo para nós e para a banda. Quanto a gravadora, sabemos muito bem o que pensar...
Ah, fio Tiê, também venho agradecer o convite feito a mim, mas já que pude arranjar tempo pra Cozinha, então o meu problema tá resolvido. Muito obrigada mesmo! Bora continuar com essa parceria gostosa. Axé!
Otimo post Tulio.
Putz, que zica.
Mo propaganda gratuita da banda. Pena que eles nao veem dessa forma.
Nao baixo.
To meio sumido, me ajeitando aqui no Brasil, logo mais, posto uns albums.
Abraco a todos
Na real galera, eu tava pensando aqui.
EU RETIRARIA O POST.
Por mais que o som seja foda e os caras merecerem e tal, todos devem ter direito a cultura.
Ou seja, se o cara nao tem dinheiro pra comprar o cd deles, nao tem o direito a escutar?
Valeu, Thd! Teus posts tão fazendo falta, velho.
Quanto a esse post, eu mantive pra motivar a discussão quanto ao tema mesmo, pois apesar de todo o discurso elogioso ao disco, eu coloco em destaque a postura da gravadora. Mas assim que alguém postar uma coisa nova, apago ele.
Agradeço muito os comentários de Diego, do Hominis Canidae, EuOvo, Luciano Matos e a Vovó Conga. Orgulho arretado de ver que a blogosfera tá ligada no que está acontecendo e unida pelo ideal da difusão musical. Massa!
Manda um novo aí, Thd, que o protesto tá feito. hehehe!
Postar um comentário